Aqui há uns anos tivemos na GSD um episódio engraçado com um miúdo de oito anos. Um dia, numa consulta, virou-se para nós e disse em jeito de protesto. “Hoje estou chateado, não me anestesiaram nem nada!”

Ora, claro que naquele dia o tratamento não implicava anestesia. E claro que o miúdo não era o Ricardo Araújo Pereira, o fantástico comunicador e humorista que que esta semana, na Rádio Comercial, tão bem caricaturou o que é uma ida ao dentista – uma espécie de aventura em que se entra logo à partida cheio de medo, com o “esfíncter contraído”.

Está visto que o Ricardo Araújo Pereira carregado de piada e de razão. À partida as pessoas têm logo receio. Mas só o desconstroem se, desde pequenas, interpretarem a ida ao dentista com naturalidade. Como aquele rapaz de oito anos que queria anestesia e tudo. Vem isto a propósito de quê? Da forma como conseguimos ou não habituar as nossas crianças a ir ao dentista. E é agora que o assunto se torna sério, porque isto é algo que pode fazer a diferença para o resto da vida.

Muita gente se pergunta, afinal, quando deve ser a primeira de uma criança ao dentista. Na GSD Dental Clinics, mesmo que não exista qualquer problema de maior, aconselhamos vivamente que seja por volta dos três ou quatro anos, cinco no máximo. Porquê? Precisamente porque é muito importante iniciar o hábito de relacionamento com o dentista.

A primeira consulta tem acima de tudo uma lógica preventiva e de familiarização. É importante perceber se está tudo bem, mas também conhecer o dentista e partilhar as primeiras regras de higiene oral – sim, escovar os dentes após o pequeno almoço e fazê-lo novamente à noite, sempre depois do último leite. Sim, sempre depois do último leitinho!

Geralmente deparamo-nos com duas situações. Ou os pais enquadraram a primeira ida ao dentista com algum receito, logo a indiciar uma espécie de “não-tenhas-medo”, ou então acontece precisamente o contrário. E aí, geralmente, tem início uma relação confortável, em que as crianças fazem do dentista um amigo, ficando inclusivamente mais dispostas para aplicar todas as regras de higiene oral – que acabam por lembrar aos próprios pais.

Esta semana tivemos a Mixórdia de Temáticas do Ricardo Araújo Pereira, mas ouvimos também uma notícia mais grave: os portugueses continuam a ser os europeus que menos vão ao dentista, uma realidade com um impacto sério na saúde pública. Temos que alterar políticas, é verdade, os acessos aos cuidados de saúde devem ser democratizados, mas também temos que alterar mentalidades. E onde é que isso começa? Precisamente na primeira ida de uma criança ao dentista.

Obrigado a todos,    
Gonçalo Dias